José de Souza Leal nasceu no Rio de Janeiro em junho de 1946.
Foi um líder estudantil em 68 do Movimento dos Vestibulandos ao lado de Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, o querido amigo Gaiola.
Depois de casado e quando pai da primeira filha, Silvia com quase 4 anos e seu primeiro e único filho homem, Carlos Roberto de pouco mais de 1 ano, foi sequestrado e torturado pela ditadura militar e mantido preso no quartel da PE, no Rio em 1974. Até pouco tempo atrás, dizia pra um amigo do Irajá, o Joel que muito o admirava, que a tortura continuava dentro da sua cabeça e ainda se lembrava bem dos gritos das mulheres sendo estupradas e do barulho da água pingando.
Esse sequestro também atingiu sua esposa Neide, seu irmão Carlos Jardel e a esposa Mariza. Os quatro foram levados separadamente e não se viram na prisão. Todos tinham deixado filhos pequenos em casa e seus familiares ficaram sem notícias até o fim do sequestro de cada um deles, em momentos diferentes.
Quando já separado da esposa, foi vencedor do Concurso de Monografias da Funarte, em 1983, que editou o livro “João Pernambuco, arte de um povo”. No dia da premiação houve a estreia do grupo musical Nó em pingo d’água que apresentou as músicas de João Pernambuco.
José Leal, o 2° filho, com seus pais e mais 3 irmãos, morou em várias cidades do pais. Foram 4 diferentes cidades em MG, em Barreiros, PE, Seropédica, Pinheiral, interior do estado do Rio. Quando crescidos, a família morou em Irajá e de lá aos 16 anos, foram morar em Botafogo, já tendo passado pelos bairros cariocas de Campo Grande, Cascadura e Ramos
Em 1985, foi para Colônia, Alemanha, e de lá foi viver em Hamburgo, onde mais tarde, teve um relacionamento que o tornou pai de uma terceira filha, Rebeca Ynaê.
Lá tentou algumas profissões, de percursionista, participou da gravação do grupo musical Favela, foi treinador de futebol de time da 2° divisão, o Altona.
Continuou escrevendo alguns poemas e editou livros bilíngues de poesia e prosa como literatura infantil e sobre cultura indígena, tendo feito viagem ao Pará e Amapá. Até que retomou o projeto sobre João Pernambuco.
Em Hamburgo, José Leal fez algumas amizades, principalmente com Sabine Borman, com quem dividiu a moradia por mais de 30 anos. Sabine se tornou sua grande amiga. Ela nunca viajou ao Brasil, mas enviou por Rebeca, uma linda e singela carta bilíngue falando da sua admiração por ele. Essa carta lida pela filha Rebeca Ynaê e traduzida pela filha Silvia que também leu a parte em português, emocionou muito a todos os presentes e seguiu com ele junto com as coroas de flores que lhe foram enviadas.
José Leal veio duas vezes a Recife aprofundar a pesquisa sobre a vida e obra do importante músico, violonista e compositor pernambucano. Conheceu pessoas que se entusiasmaram bastante com o projeto e na pandemia realizaram Live de divulgação com solicitação de ajuda financeira pro desenvolvimento do Instituto de Arte Popular João Pernambuco. Essas pessoas o acolheram e se tornaram seus últimos melhores amigos. E em 2023, editou o livro “Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco, uma infinita viagem”, de sua autoria. No mês de agosto recebeu bonita homenagem organizada pela Faculdade de Música da UFBA, com participação do Madrigal e da Orquestra de violões da UFBA, onde fez o lançamento do livro com sessão de autógrafos, integrando a Programação da Aula Magna da Faculdade de Direito. Rodrigo Moraes, de Salvador, quem escreveu o prefácio do livro e se tornou seu amigo, o ouviu dizer que tinha vontade de voltar a viver no Brasil. Rodrigo ficou sabendo também que José Leal aguardava há anos resposta do STJ sobre o processo de indenização a presos políticos e torturados pelo regime militar. Esse processo que o levou ao DF e Goiás fez com que criasse novas amizades.
Ele e seu irmão Carlos Jardel mantiveram-se em contato no período da finalização da pesquisa e edição do livro.
José Leal viajou até à cidade natal do músico e conheceu seus familiares.
Sua amiga Necy que o hospedava em sua casa, afirmou que ele deixou escrito um livro de literatura infantil, Joãozinho e seu violão.
No dia 10 de setembro de 2023 sofreu um AVC em Recife, que o colocou em estado de coma profundo, vindo a falecer no dia 13/9. Sua morte repentina deixou os amigos e seus familiares em choque emocional.
Seu único filho homem, se dedicou ao trabalho de transferência pro Rio com a ajuda dos amigos de Recife que lá o acompanharam com todo amor e dedicação.
No domingo 17/9 realizou-se o sepultamento no cemitério de Irajá com a presença de todos os seus familiares e amigos queridos.
Sua amiga Necy, de Recife, manifestou o desejo de criar um Memorial no Instituto, quando for possível reunir todo o material produzido por ele, disse:
João Pernambuco vive!
José Leal vive!
Texto escrito Neide Domingues de Freitas


